Pesca com Mosca em territorio selvagem de montanha

Pesca com Mosca em território selvagem de Montana: trutas, logística de campo e um impasse técnico com ursos-pretos

🎣 Lead Pesqueiro Técnico

Na primeira semana de julho de 1956, dois irmãos-guia de um rancho de turismo no vale do North Fork do rio Blackfoot, oeste de Montana, decidiram utilizar a folga do feriado de 4 de Julho para testar

novamente um trecho remoto repleto de trutas arco-íris (Oncorhynchus mykiss) e cutthroat (O. clarkii). Montados em cavalos de carga, sem barraca e munidos apenas de varas de fly e de um revólver Smith & Wesson .

38 Special (calibre 9,65 mm), eles planejaram dois dias de pesca em um antigo posto florestal desativado. O que parecia ser uma escapada tranquila transformou-se em um exercício de logística de campo e

manejo de fauna potencialmente perigosa, depois que uma ursa-preta (Ursus americanus) e dois filhotes tornaram-se visitantes assíduos do acampamento improvisado.

🐟 Características da Espécie/Técnica

A meta principal dos pescadores era a captura de trutas arco-íris e trutas cutthroat que frequentam as águas frias, cristalinas e altamente oxigenadas do North Fork.

Esses salmônidos se alimentam de insetos de superfície ao amanhecer e ao entardecer, tornando as moscas secas tradicionais — Black Gnat, Royal Coachman e Gray Hackle — escolhas clássicas.

Baseando-se nas informações técnicas disponíveis e conhecimento especializado da modalidade, podemos afirmar que as trutas da região apresentam padrão de crescimento médio de 20 a 40 cm, com

exemplares excepcionais ultrapassando 50 cm, graças à abundância de macroinvertebrados bentônicos e à temperatura da água geralmente entre 8 e 12 °C no início do verão.

🎯 Equipamentos e Configuração

Fonte original: varas de fly sem especificação de número de linha.
Contexto adicional: No cenário de montanha norte-americano, o setup historicamente predominante nessa época era composto por:
• Vara de bambu ou fibra de vidro de 8 a 9 pés (2,4-2,7 m), ação média-rápida, classe #5 ou #6.
• Carretel convencional de fly com freio a clique-pawl, acomodando linha flutuante DT-5 F ou WF-6 F e 25 m de running de dacron 20 lb (9 kg).
• Leader cônico de 9 pés (2,7 m) finalizado em tippet 5X (Ø 0,15 mm) para moscas secas de gancho #12 a #14.
A escolha da Black Gnat imita formigas aladas; a Royal Coachman, mayflies; e a Gray Hackle funciona como padrão genérico de mosquito. A troca de fly — de Royal Coachman para Gray Hackle — foi decisiva para atrair um arco-íris de 15 polegadas (≈38 cm).

Arma de defesa: revólver Smith & Wesson .38 Special, cano de 4” (10,2 cm), capacidade 6 munições, peso médio 900 g.

Embora o calibre 9,65 mm seja modesto para ursos, disparos intimidatórios em vazio costumam ser eficazes para Ursus americanus em situação não predatória.

🌊 Condições Ambientais e Localização

O North Fork do Blackfoot nasce em encostas acima dos 1 500 m de altitude, corre sobre cascalho granítico e desce para cerca de 1 200 m na área do antigo posto florestal.

Profundidade média nos flats: 0,6 m; nos pools: 2 m. A vazão de verão varia entre 5 e 10 m³/s. Vegetação local dominada por Pinus ponderosa e Abies lasiocarpa, oferecendo sombra e fornecendo troncos caídos — perfeito abrigo para trutas.

A presença do log bridge citado na fonte indica correnteza forte o suficiente para desencorajar a travessia de ursos a nado, solução explorada pelos pescadores para armazenar suprimentos.

⚙️ Técnica de Pesca Detalhada

Os irmãos adotaram deriva natural clássica:
1. Posicionamento a montante do tronco tombado.
2. Arremesso em ¾ rio, evitando drag excessivo.
3. Drift controlado com mend up-stream para manter a mosca em zona morta ao lado do tronco.
4. Strip strike suave no toque para proteger tippet 5X contra trutas rápidas.
Relato de desempenho: três cutthroats de 10 pol (25 cm) na Black Gnat; arco-íris de 38 cm na primeira deriva com Gray Hackle; limite de cota (≈12 peixes) atingido antes do meio-dia do segundo dia.

📊 Resultados e Performance

Durante a tarde inicial, as capturas somaram 12 exemplares, média estimada de 0,8 kg por peixe, totais de ~9,5 kg de biomassa — significativa para pescaria recreativa de montanha na década de 1950.

Taxa de sucesso elevada (>2 peixes/hora) refletiu seleção correta de moscas e leitura de água. As trutas menores foram retidas para consumo imediato, prática comum na época, quando conceitos de catch & release ainda eram incipientes.

🏆 Torneios e Competições

Não se trata de evento competitivo; entretanto, vale observar que, desde 1990, diversos clubes de fly norte-americanos adotaram políticas de torneio com pontuação baseada em comprimento capturado e solto, refletindo evolução dos princípios de manejo sustentável que hoje integram campeonatos brasileiros de la plata e black bass.

⚖️ Legislação e Conservação

Em 1956 não havia quota federal rígida para trutas no Montana, prevalecendo normas estaduais de 20 peixes/dia.

Atualmente o estado limita a 5 peixes/dia, sendo apenas 1 cutthroat ≥30 cm. No Brasil, a Instrução Normativa IBAMA nº 25/2009 regula espécies exóticas (truta arco-íris) em ambientes frios da Serra da Mantiqueira, mas proíbe a introdução em bacias sensíveis da Mata Atlântica.

Quanto aos ursos, a política contemporânea do U.S. Forest Service exige recipientes à prova de Ursus americanus e proíbe armazenamento de alimentos em cabanas desativadas sem barreiras adequadas — lição derivada de incidentes como o relatado.

Disparos de advertência continuam autorizados, mas a eliminação de indivíduos problemáticos é realizada por biólogos ou fiscais, não por pescadores.

🎓 Dicas dos Especialistas

Fonte original não traz depoimentos formais, mas segue complementação prática:
• Ao operar em áreas com ursos-pretos, suspenda alimentos a 4 m do solo e 2 m do tronco mais próximo.
• Tenha spray de pimenta (capsaicina 2 %) em vez de arma de fogo leve; alcance 9 m, eficácia >90 % em testes do Interagency Grizzly Bear Committee.
• Em rios de montanha, priorize moscas high-floating com hackle denso, pois a turbulência afunda padrões mais esparsos.
• Troque tippet a cada truta de porte para evitar rompimento por abrasão de cascalho.

🔮 Conclusões Técnicas

O relato demonstra que logística de segurança é tão crítica quanto a seleção de fly em ambientes silvestres.

A solução improvisada de pendurar mochilas sob a ponte, embora engenhosa, conforme padrão Leave No Trace 2025 seria considerada paliativa.

O correto seria portar bear-canisters de polipropileno ou caixas metálicas certificadas IGBC. Na parte estritamente da pesca, a alternância de moscas dentro do espectro clássico de padrões genéricos confirma que, em águas ricas, apresentação natural supera cor ou brilho.

Para o leitor brasileiro que viaja a destinos de truta — seja Patagônia, seja Serra Catarinense — a lição é clara: planeje abrigo, alimentação e descarte de resíduos com o mesmo rigor que escolhe sua vara IM8 e seu leader de fluorocarbono.

Incidentes com fauna silvestre, de quatis na Mata Atlântica a onças-pintadas no Pantanal, seguem lógica semelhante: onde há alimento disponível, haverá conflito.

Fazendo da prevenção parte integrante do checklist de pesca, garante-se não apenas a integridade dos equipamentos e da captura, mas principalmente a preservação do comportamento natural da fauna e a sustentabilidade do pesque-e-solte recreativo em qualquer latitude.